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E a resposta é: sem dúvida nenhuma! Mas há casos em que os nossos pedidos colidem frontalmente com o querer do Pai e, quando isto acontece, só nos resta escolher entre a frustração ou a confiança na perfeita vontade de Deus que sempre sabe o que é melhor para cada um de nós. E esta é a mais importante das lições que Jesus nos deixou na prática. Veja só: Sua fé extraordinária lhe permitia obter qualquer coisa que quisesse. Ele nem precisava orar. Bastava mandar e pronto: mares enfurecidos eram acalmados; paralíticos saltavam de alegria; mudos cantavam; carnes leprosas tornavam-se iguais às de recém-nascidos; cegos passavam a enxergar como águias; espíritos maus fugiam apavorados e mortos eram ressuscitados instantaneamente, ainda que seus corpos já estivessem putrefeitos.
Querendo Ele, podia andar sobre as águas, como se fossem terra firme. E, mesmo assim, houve uma ocasião em que Jesus pediu três vezes a mesma coisa e, apesar de estremecer o Céu com a intensidade da sua oração, Ele não foi atendido. Foi na Sua última noite de vida. Angustiado até a morte, e consciente de todos os horrores que lhe sobreviriam, Jesus vai tentar um último e insistente apelo junto ao Pai, enquanto Judas, com um archote na mão, começa a subir o monte, conduzindo uma nervosa trupe de seiscentos e sessenta e seis pessoas. Acompanhe (Mateus 26:36-46):
“Então, chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos:
– Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.
E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, começou a ter pavor, a entristecer-se e angustiar-se muito. Então lhes disse:
– A minha alma está triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.
E, indo um pouco adiante, cerca de um tiro de pedra, pôs-se de joelhos e prostrou-se com o rosto em terra. E orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. Dizia: “Aba, Pai, tudo Te é possível; Afasta de mim este cálice; todavia não seja o que eu quero, mas o que Tu queres”. Há muito amor e súplica neste início de oração: a palavra aramaica “Aba” era empregada pelas criancinhas para chamar o pai com ternura, quando pediam algo muito desejado. Envolve carinho e afeto e quer dizer Meu Papai. E desta vez Jesus não está levantando os olhos ao Céu, como sempre fazia, fosse para multiplicar os pães, para dar ouvidos a um surdo ou para ressuscitar Lázaro. Seu apelo é tão intenso, que Ele se lançou aos Pés do Pai, com o rosto em terra. É a primeira e única vez que as testemunhas citam que Jesus orou nesta posição. E esta sua postura torna-se ainda mais dramática quando sabemos que, na Parábola do Fariseu e do Publicano, Ele mesmo deu a entender que orar sem olhar para o Céu é sinal de vergonha: Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao Céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador!” (Lucas 18:13).
Ali está um homem que não tem do que se envergonhar, porque nunca se achou nenhum engano na sua boca. Contudo, em suas últimas quinze horas de vida, Ele se posiciona abaixo de um publicano, porque não ora nem em pé, mas arqueia-se até colocar a fronte no chão e a boca no pó da terra. Mas por que o dilema? O que o impede de evitar o cálice por conta própria? Por que não se levanta e vai embora, antes que Judas chegue com os guardas? Afinal, ele tem trinta e três anos! É um homem feito, dono de vontade própria! Pode resolver sozinho este problema sem depender de Deus: é só descer o monte pelo lado oposto e jamais o prenderão! Por que esta angústia?
Jesus sabe, há tempos, que foi escolhido como o Cordeiro daquela próxima Páscoa! A sua morte já foi decretada “desde a fundação do mundo” (I Pedro 1:20 e Apocalipse 13:8). Ele é a semente da mulher que esmagará a cabeça da serpente, mas terá o seu calcanhar ferido (Gênesis 3:15). Ele é o Cordeiro oferecido no lugar de Isaque, provido por Deus (Gênesis 22:8). Ele foi representado na primeira Páscoa, através do cordeiro sem mácula cujo sangue foi espargido no madeiro das portas das casas (Êxodo 12:7). Desde aquela época, cerca de 1450 a.C., Deus havia colocado o seguinte meio para perdão do pecado: “É o sangue que fará expiação em virtude da vida” (Levítico 17:11b). Por isso escolhia-se um cordeiro perfeito, sem defeito e sem mancha, representando a inocência e a pureza, e o animal era sacrificado em favor do pecador.
Mas este sacrifício era incompleto, porque o cordeiro tomava o lugar do pecador somente no derramamento de sangue. O animal jamais poderia substituir o homem como ser humano. Enquanto os cordeiros das Páscoas anteriores, irracionais, nem sabiam porque morriam, Jesus, o mais puro e perfeito de todos os humanos, sem nenhuma mácula na sua reputação, sabe como ninguém o que está prestes a sofrer e por quê. Ele já havia dito: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10:45).
Também naquela última semana, enquanto caminhava para Jerusalém, Ele disse aos seus discípulos: “Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. E eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, açoitem e o crucifiquem. Mas ao terceiro dia ressuscitará” (Mateus 20:18-19). Aquele momento não o pegou de surpresa. Mas, perfeitamente humano, ele não esconde o seu pavor e angústia. Não tenta passar a imagem de um super-homem ou de um mártir destemido. Transparecem nEle todas as hesitações e contradições que somente nós, seres humanos, possuímos. Ainda que saiba que vai ressuscitar ao terceiro dia, sente pavor como qualquer pessoa. E quem não sentiria? Se alguém marcasse uma hora certa para cravar enormes pregos enferrujados em cada uma das suas mãos e pés, mesmo sabendo que ressuscitaria depois, você não sentiria angústia e pavor à medida que aquela hora se aproximasse?
Jesus sabe que é chegada a sua hora e sente o peso dessa nossa contradição. Por isso disse: “Agora a minha alma está perturbada. E que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora” (João 12:27). Jesus veio a este mundo para assumir definitivamente o lugar do cordeiro inocente e “aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9:26). Mas aquilo que era plano de Deus agora pode ou não se realizar na prática. Ele não está sendo coagido. Tem o livre-arbítrio e a opção de fazer a sua vontade ou a do Pai. Enquanto vive o conflito íntimo e desesperador de uma decisão particular, que pode decidir o seu próprio futuro e o de bilhões de outras pessoas, Jesus, sozinho no Getsêmani, começa a sentir o peso dos pecados da Humanidade passada, presente e futura. Desde o culpado pelo derramamento do sangue de Abel até os pecados da última geração que viver neste planeta. Por isso Ele está arqueado! Quem poderia suportar tamanha carga? Neste apelo, após chamar Deus de “Meu Paizinho”, o humano Jesus invocou a máxima de que “tudo é possível para Deus”. E fez o seu pedido com muita fé: “Afasta de mim este cálice”. Enquanto o seu pedido ecoa no Céu, o silêncio do Pai é um claro e terrível indício de que Ele não será atendido: “E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo.
E disse a Pedro:
– Simão, dormes? Então, nem uma hora pudestes vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo:
– Pai, se queres, afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a Tua.
E, voltando, achou-os outra vez dormindo, porque seus olhos estavam carregados. E disse-lhes:
– Por que estais dormindo?
E não sabiam o que lhe responder.
– Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação”. (Jesus sente um profundo vazio e solidão: não está sendo atendido pelo Pai e nem ouvido pelos filhos. Jesus anda de um lado para o outro, e apela mais uma vez).
“Deixando-os novamente, foi orar terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Então lhe apareceu um anjo do Céu, que o confortava. E, posto em agonia, orava mais intensamente:
– Pai meu, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a Tua vontade.
E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até o chão”.
O seu cálice começou a encher naquela hora, com o suor abundante sendo transformado em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão. A medicina explica este fenômeno como hematidrose. Ocorre quando uma pessoa é submetida a uma pressão emocional insuportável: os microvasos capilares se rompem e o sangue se mistura ao suor do aflito. No caso de Jesus, a pressão nos vasos sanguíneos é agravada pela posição em que se encontra: com a testa apoiada no chão, uma grande quantidade de sangue desceu para a cabeça. Sob forte emoção, diante de uma tragédia pessoal há muito anunciada, seus batimentos cardíacos se aceleram, o que aumenta a pressão nas paredes arteriais dos seus finíssimos vasos capilares. Só de pensar no que irá passar, as veias das têmporas e do couro cabeludo se dilatam. Os microvasos não resistem e se rompem. O Sangue do Cordeiro começa a se misturar ao suor que, tingido de vermelho, parece grandes gotas de sangue.
E aqui há um maravilhoso paralelo: Deus foi a primeira Pessoa no Universo a pronunciar a palavra suor. Naquela ocasião, no Jardim do Éden, o SENHOR associou esta palavra ao pecado, maldição, sofrimento e morte, devido à desobediência humana: “Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gênesis 3:17b-19).
Agora, de novo em um Jardim, o suor mais uma vez ressurge associado ao pecado, maldição, sofrimento e morte. Sim, por causa da queda humana, Jesus sabe que, se for em frente, passará por maldito, “porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gálatas 3:13, Deuteronômio 21:23). Também passará por grande sofrimento e provará a morte. Porém, enquanto o primeiro Adão, imperfeito, desobedeceu e pecou, o Último Adão tomou a decisão de se sujeitar inteiramente à vontade do Pai.
E, assim, associou o suor eternamente à Bênção, à Paz e à Vida. A hematidrose de Cristo demonstrou, com toda dramaticidade, que Ele veio desfazer a maldição do pecado e eliminar todo sofrimento e morte. A sujeição voluntária à vontade do Pai, por confiar que ela é sempre boa e perfeita, associada à salvação da raça humana, fazem Jesus se levantar e avançar na direção de seus algozes. Pecado é não crer nisto. Por isso Ele disse: “E quando o Espírito Santo vier, convencerá o Mundo do pecado[...] porque não creem em Mim” (João 16:8-9). Diante da impossibilidade de atender ao seu pedido, Deus enviou um anjo do Céu para confortá-lO.
A sua oração foi ouvida sim, mas não será atendida. O sacrifício é inevitável e insubstituível. Se existisse a menor possibilidade de alguém ser salvo por outro meio ou pessoa, Jesus não precisaria beber aquele cálice amargo. O anjo deve ter-lhe dito: “Senhor, o Teu clamor encheu o Céu. Todos os anjos, arcanjos, querubins e serafins estão chorando. Não há outro meio: Tu és o Único Salvador da Humanidade”.
“Depois, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos e achou-os dormindo de tristeza. E disse-lhes:
– Dormi agora e descansai. Eis que é chegada a hora e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamo-nos. Eis que é chegado aquele que me trai”.
E, resolutamente, caminha ao encontro de Judas e dos guardas. Vai se entregar por nós. Não como um criminoso impotente, que não vê outra saída. Porque os guardas, ao perguntarem sobre Jesus, caem por terra diante dEle. Pacientemente, Ele esperará os guardas se levantarem para se “render”. Faz isto porque é da vontade do Pai. Quando Pedro reage à sua prisão e fere Malco com a sua espada, Jesus o manda guardar a arma e diz: “Não hei de beber o cálice que o Pai me deu?” (João 18:11). Ainda que o cálice seja amargo como fel, Jesus entrega-se totalmente à vontade de Deus, sem reclamar ou blasfemar porque confia que é o melhor para Si e para todos.
E, assim, o que parecia um grande fracasso transformou-se na maior vitória de todos os tempos! Se analisarmos melhor as três orações de Jesus no Getsêmani, veremos que, afinal, a sua petição foi atendida. Nas três vezes Ele pediu: Não se faça a minha vontade, mas a Tua. Nele, a vontade do Pai cumpriu-se totalmente e, assim, fez do Pai Nosso a sua mais sublime oração: santificou o Nome do Pai que está no Céu, trabalhou para que o Seu Reino fosse implantado entre nós e fez a Sua vontade assim na Terra como no Céu. Entregou-se como o Pão nosso de cada dia e, na cruz, perdoou todas as nossas dívidas. Não caiu na tentação de fugir do sacrifício e livrou-nos de todo mal. Por isso confirmou o Reino, o Poder e a Glória para todo o sempre, amém!
Este episódio da vida de Jesus nos ensina claramente que nem sempre o que nós pedimos é da vontade de Deus. Fazemos, muitas vezes, pedidos egoístas, supérfluos e até infantis. Como crianças, fazemos beicinho para o nosso Pai e até nos revoltamos porque Ele parece não entender o que queremos, quando somos nós que não entendemos que Deus, como Pai Perfeito, sempre quer o melhor para os seus filhos (Mateus 7:11). Filhos costumam manipular os pais, mas não podemos agir assim com Deus. Quando pedimos coisas sem levar em conta a Sua perfeita vontade, invertemos os papéis: ao invés de querermos que a Sua vontade seja feita, queremos que Ele sempre faça a nossa vontade. E nem sempre pedimos bem.
Olhe para si mesmo: quantas coisas você desejou ardentemente no passado e, se as tivesse conseguido, que tragédia ou atraso de vida não teriam sido? Sem que você se desse conta, ou Lhe pedisse, o Pai já lhe deu grandes livramentos e ajudas! Confesso que já tomei muitas decisões equivocadas e, várias vezes, reclamei dos resultados, como se Ele fosse o responsável pelos acontecimentos que eu mesmo gerei. Também fiquei insistindo em coisas que julgava importantíssimas e, intimamente, não entendia por que Ele não me dava. Hoje eu reconheço que, na verdade, Ele tinha me atendido, evitando coisas que só iriam me prejudicar. Ele sempre interagiu para me tirar do sufoco, mesmo quando o Seu silêncio parecia falta de resposta. Assim como você, também estou aprendendo a interagir com Deus, e a parte mais difícil é curvar o meu espírito no Getsêmani até fazer a Sua vontade.
O apóstolo João, que durante três anos aprendeu os mais fantásticos segredos de Jesus, escreveu o seguinte: “E esta é a confiança que temos nEle: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua Vontade, Ele nos ouve” (I João 5:14). O sucesso de Jesus sempre esteve ligado a esta Sua declaração: “Porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou” (João 6:38). Jesus, se quisesse, poderia sempre fazer a sua própria vontade. Condições para isto nunca Lhe faltaram. Mas Ele sabia que, se fizesse a Vontade do Pai, estaria escolhendo sempre o melhor para a Sua vida. Peça ao Pai, com fé, em Nome de Jesus, segundo a Sua perfeita vontade. E tenha a certeza de que, quando Ele lhe negar alguma coisa é porque tem algo melhor preparado.
Por Juanribe Pagliarin


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