O Homem Contra si Proprio

O Homem Contra si Proprio




Como consegue êle ésse resultado? Explicando de maneira clara o funcionamento de nossa mente e mostrando como podemos
desviar de nós o nosso próprio ódio e aplicá-lo contra nossos verdadeiros inimigos, combatendo-os sem trégua.
Êsses inimigos, que tantas vêzes poupamos e até mimamos, estão dentro de nós. Mal-informados disso, buscamo-los fora,
voltando-nos contra o mundo e praticando as enormes destruições em massa que a história da humanidade registra.
Trata-se de aplicar corajosamente a inteligência à compreensão da natureza humana em suas complexas manifestações.
Assim fazendo, estamos na verdade empenhados numa batalha contra a morte, reforçando a vontade de viver e substituindo pelo
amor a cega compulsão que nos leva a dar guarida ao ódio, como se este fôsse o preço da vida.
Por isso o título do livro é EROS E TÂNATOS. Amor e Morte.
Como fazer do Amor a grande fôrça vencedora do impulso de autodestruição.
A linguagem é dara e viva. O Dr. Karl Menninger escreve como um repórter narrando uma grande batalha, desde suas mais profundas origens.
Karl Menninger nasceu em 1893 na cidade que depois organizou a famosaFundação que lhe guarda o nome.
Dele, a IBRASA publicou tambem AMOR CONTRA O ÓDIO.


1 / Eros e Ta na tos
Por mais que tentemos, é dificil conceber o nosso Universo em termos de concórdia; pelo contrário, nós nos defrontamos ern todo lugar com a evidencias de conflito. Amor e ódio, produção e consumo, criação e destruição — a constante guerra de tendências opostas parece ser o coração dinâmico do mundo. O homem percorre a agitada gama de sua vida através de riscos de doença e acidente, de feras e bactérias, do poder maligno das forças da natureza e das mãos vingativas de seus semelhantes. Contra essas inumeraveis forças de destruição, a longa e fina linha de defesa proporcionada pela inteligência cientifica que luta incessantemente no esforço de impedir a destruiçáo da humanidade.
Não é de admirar que a atemorirazada humanidade se volve anciosamente para a magia e o mistério, tanto quanto para a ciência medica, à |procura de proteção.
Vezes e vezes nos últimos anos as águas crescidas de Ohio, do Mississipi e de outros rios derramaram-se sobre os campos o cidades de areas populosas, arrastando as casas e jardins os livros e tesouros, os alimentos e fabricas de milhões de pessoas. Que ao mesmo tempo e no mesmo pais árvores foram mortas pela seca capim secou sob o sol, gado pereceu de sede e fome: aves e pequenos animais selvagens desapareceram e uma crosta pardacenta substituiu a habitual verdura da paisagem. E recentemente a costa do Pacifico foi de novo sacudida por terremotos que destruíram o paciente trabalho de anos, enquanto a costa do Atlântico era varrida por furacões e tempestades devastadoras.
Enquanto essas espctaculares fúrias da Natureza causavam a destruição de milhões de pessoas indefesas, outros milhões jaziam em hospitais sucumbindo vagarosa ou rapidamente em consequencia de destruidoras invasão de bacterias, toxinas e canceres salpicados aqui e acola entre todas essas miserias. Todavia acidentes cotidianos que ocorrem nas atividades comuns da vida causando morte e destruição em lampejos rápidos e inesperados.
Seria de esperar que diante desses esmagadores golpes do Destino ou da Natureza, o homem se opusesse firmemente à morte e à destruição em uma fraternidade universal de humanidade sitiada. Mas não é o que acontece. Quem quer que estude o comportamento de sêres humanos não pode fugir à conclusão de que precisamos levar em conta um inimigo dentro das linhas. Torna-se cada vez mais evidente que parte da destruição que flagela a humanidade é autodestruição; a extraordinária propensão do ser humano a aliar-se às fôrças externas no ataque contra sua própria existência é um dos mais notáveis fenômenos biológicos.
Homens voam sôbre antigas e belas cidades lançando bombas explosivas em museus e igrejas, em grandes edifícios e em criancinhas. São encorajados pelos representantes oficiais de duzenas de milhões de outras pessoas, tôdas as quais contribuem diariamente com impostos para a frenética fabricação de instrumentos destinados a dilacerar, retalhar e estraçalhar sêres humanos semelhantes a elas, dotados dos mesmos instintos, das mesmas sensações, dos mesmos pequenos prazeres e da mesma compreensão de que a morte vem cedo demais para acabar com essas coisas inteiramente de tendencias autodestrutivas; de fato pode se dizer que os fenomenos da vida, o comportamento peculiar a diferentes indivíduos, e expressam a resultante desses fatores colidentes. Uma espécie de equilíbrio, com freqüência muito instável, é conseguida e mantida ate ser perturbada por novos acontecimentos no ambiente, que causam uma rearrumação com resultado talvez muito diferente.
Isso é o que veria quem examinasse nosso planeta superficialmente, e se olhasse mais de perto a vida de indivíduos e comunidades veria ainda mais coisas que o deixariam perplexo; veria contendas, ódios e lutas, inútil desperdício e mesquinha destrutividade. Veria pessoas sacrificando-se para ferir outras e gastando tempo, esforço e energia para encurtar esse recesso do oblívio, dolorosamente pequeno, que chamamos de vida. E, mais espantoso que tudo, veria alguns que, como se faltassem outras coisas a destruir, voltam suas armas contra si próprios.
Se, como suponho, isso deixaria perplexo um visitante de Marte, certamente deve espantar quem presuma, como talvez todos nós fazemos às vêzes, que os sêres humanos desejam o que dizem desejar:  vida, liberdade e felicidade.
O médico, por exemplo, faz suas rondas diárias na firme crença de estar atendendo ao chamado daqueles que desejam prolongar suas vidas e diminuir seus sofrimentos. Chega a dar grande valor à vida e a presumir que sua atitude é universal. Esforça-se tremendamente para salvar a vida de uma única e insignificante criança ou de um único e inútil patriarca. Acredita ingenuamente na verdade absoluta do ditado de que a autopreservação é a primeira lei da vida. Sente-se um salvador da humanidade, um baluarte contra as hordas da morte.
De repente ou talvez gradualmente, desilude-se. Descobre que os pacientes muitas vêzes não querem ficar bons como dizem. Descobre que seus solícitos parentes muitas vêzes não querem que êles fiquem bons.
Dcscobre que seus esforços são combatidos, não só pela Natureza, pelas bactérias e toxinas, mas também por algum diabrete da perversidade dentro do próprio paciente. Um velho professor que eu tive observou certa vez que o médico deve dedicar a maior parte de seus esforços a impedir que os parentes matem o paciente e depois confiar em Deus — às vezes no cirurgião — para o resto; mas o medico competente realmente faz mais do que isso. Não só contém os parentes, mas procura impedir que o paciente faça as coisas que favorecem a doença e não a recuperação.
Foram observações como essas que levaram à formulação, por Sigmund Freud, da teoria de um instinto de morte. De acordo com êsse conceito, existem desde o início em todos nós fortes propensões à autodestruição e essas propensões só se concretizam em verdadeiro suicídio nos casos excepcionais em que numerosas circunstâncias e fatôres se combinam para torná-lo possível.
Contudo, surge esta questão: se um grande impulso para a morte domina todos nós, se no íntimo todos nós desejamos morrer, por que tantos de nós lutam contra isso como fazem, por que nem todos nós cometemos suicídio, como aconselharam muitos filósofos? Em certos sentidos, parece mais lógico investigar porque alguém vive enfrentando dificuldades, tanto externas como internas, do que provar porque morremos, pois nem tôdas as pessoas continuam a viver e todas conseguem finalmente morrer. Em outras palavras, porque o desejo de viver sempre, nesmo temporariamente, triunfa sobre o desejo de morrer?
Freud faz ainda a suposição de que os instintos de vida e de morte — chamemo-los de tendências construtivas e destrutivas da personalidade — estão em constante conflito e interação, exatamente como acontece com fôrças semelhantes na física, química e biologia. Criar e destruir, construir e despedaçar, êsses são o anabolismo e catabolismo da personalidade, não menos que das células e dos corpúsculos — as duas direções em que as mesmas energias se exercem.
Essas fôrças, dirigidas originariamente para dentro e relacionadas com os problemas íntimos do eu, o ego, passam a ser finalmente voltadas para fora em direção a outros objetos. Isso corresponde ao crescimento físico e ao desenvolvimento da personalidade. Deixar de desenvolver-se, a partir dêsse ponto, significa voltar incompletamente para fora a destrutividade e construtividade dirigida para o eu, com que nós — por hipótese — nascemos. Em lugar de combater seus inimigos, tais pessoas combatem (destroem) a si próprias; em lugar de amar amigos, música ou a construção de uma casa, tais pessoas só amam a si próprias. (Ódio e amor são os representantes emocionais das tendências destrutivas e construtivas.) Todavia ninguem se desenvolve completamente a ponto de livrar-se
Com base nisso podemos compreender como é possivel que algumas pessoas se matam rapidamente, algumas se matam vagarosamente e algumas não se matem, que algumas contribuam para sua própria morte e muitas resistam valente e brilhantemente contra ataques externos à sua vida diante dos quais seus semelhantes teriam logo sucumbido. Tão grande parte disso, porém, ororre automática e Inconscientemente, que parece a primeira vista tarefa impossivel discecar os pormenores de determinado acordo ou acomodação entre os instintos de vida e de morte. É precisamente por essa razão que a introdução da técnica psicanalitica de intestigação nos proporciona um conhecimento inteiramente novo do processo através do esclarecimento de seus pormenores. Permitemos reconhecer como adiamento da morte é às vezes comprado pelo instinto de vida por alto preço.
A natureza do prêmio pago pelo adiamento da morte é muito variavel tanto em grau como em especie. Em alguns casos as condições são altamente estreitas e limitadas, em outros são mais liberais. São esses prémios essas acomodações entre os instintos de vida e de morte, como as obsevamas nos seres humanos, que constituem a matéria déste livro. E, por assim dizer, uma investigação sobre o preço de viver — "o alto custo de vida" — como disse um de meus colegas.
Quando uma doninha ou uma marta rói sua propria perna a fim de escapar de uma armadilha, faz isso, ate onde podemos julgar.

Consciente e deliberadamente, aceitando, por assim dizer, a plena responsabilidade da autodestruição autopreservadora. Alguns individuos humanos, obrigados a sacrificarem semelhantes para preservação de sua própria vida também aceitam a responsabilidade e defendem seu ato com as razões lógicas que conseguem encontrar, as vezes corretas, muitas vezes falsa, mas geralmente bem plausíveis. Entre êles se incluem aqueles cujo suicídio parece perfeitamente razoável, por exemplo, o homem idoso que está morrendo de doloroso câncer e quietamente toma veneno. Contudo, entre eles se incluem tambem suicídios atenuados como os que são representados por ascetismo, martírio e muitos processo cirúrgicos.
Em outros casos o individuo aceita a responsabilidade da autodestruição de má vontade e só em parte, não fazendo a menor tentativa para explicá-la ou defendê-la de modo que os atos parecem sem propósito, como por exemplo o lento arruinar de uma vida pelo alcoolismo crónico ou morfinomania.
Ainda outros existem que não aceitam a menor responsabilidade pela autodestruição; a responsabilidade é por eles projetada sobre o destino, inimizade ou circunstância; vê-se isso em alguns supostos acidentes, que com frequência são de naturera inconscientemente intencional.
Finalmente, há um quarto grupo no qual o ego do indivíduo não aceita responsabilidade pela autodestruição nem faz a menor tentativa de explicá-la ou defendê-la. Neste caso, o autodestruição é teoricamente representada por certas doenças físicas.
Em todos esses o impulso autodestrutivo está implícito ou explícito. Visto assim em série prende nossa atenção e reclama que examinemos analiticamente os vários meios pelos quais homens praticam suicídio, às vezes sem o saber. Foi êsse estudo analítico que eu tentei.
Plano do Livro
O plano deste livro ê o seguinte. Encetaremos em primeiro lugar a discussão daqueles malogros na tentativa de acomodação descritos acima, dos quais resulta numa morte imediata, mais ou menos voluntária — em outras palavras suicídio. Tentaremos descobrir que motivos subjacentes determinam essa escolha porque em alguns indivíduos o desejo de morrer vence tão completamente o desejo de viver e o faz com a plena cooperação da inteligência consciente. Ao mesmo tempo, tentaremos indicar em que medida essas tendências podem ser reconhecidas antes de tão desastroso resultado.
Examinaremos depois várias formas das acomodações melhor sucididas, nas quais o impulso de destruir o próprio eu parece diluir-se ou desviar-se, de modo que o morte é adiada, pelo menos, embora com dispêndio indevidamente grande sob a forma de sofrimento, malogro ou privação. Interessar-nos-emos tanto em descobrir porque tais indivíduos não cometem logo suicídio, como em saber porque são tão fortemente impelidos na direção de autoferimento e outorestrição.
Isso nos levará à consideração de numerosas formas de autodestruição formas abortivas, formas desfiguradas, formas crônicas — todos aquêles malogros na vida que parecem estar diretamente relacionados com evidentes equívocos e desgovernos da parte do indivíduo, mais que com inevitáveis ocidentes do destino e da realidade. Nisso se inclui grrande número de pessoas que demonstram não serem capazes de suportar o sucesso, que se saem bem em tudo menos em obter sucesso, e aquêle número ainda maior dos que parecem falhar em tudo exceto na consumação do fracasso.
E, finalmente, consideraremos ate que ponto e por que meios e possível arbitrariamente desviar essas malignas tendências autodestrutivas e evitar os desastres e sacrifícios através dos quais elas são contidas espontêneamcnte e nesses vários graus. Isso envolve a consideração das técnicas a que podemos recorrer para reforçar os instintos de vida em sua defesa contra as tendências destrutivas, com o propósito não apenas de prevenir suicídio em sua forma crua e imediata, mas também de enfrentar o problema mais amplo de diminuir os casos de vida prejudicada e de acomodações exorbitantemente onerosas na luta entre vida e morte.
A primeira parte deste livro é, portanto, uma análise dos motivos mais profundas de suicídio, isto é suicídio no sentido comumente aceito. A parte seguinte considerará as formas crônicas de suicídio nas quais o efeito é difuso. A terceira parte considerará o tipo mais focalizado de autodestruição. A quarta parte tratará de uma extensão da teoria de autodestruição ao problema da doença físico, extensão que deve ser considerada, por enquanto, em grande parte hipotética.
A parte final tratará das técnicos existentes para combate à autodestruiçao e é, por isso, intitulado "Reconstrução".

PARTE II - SUICÍDIO
1/O Tabu
Há certo assunto a cujo respeito muitas vem falamos em tom de brincadeira como que para evitar a necessidade de discuti-los sèriamente. 0 suicídio é um dêles. Tão grande é o tabu sóbre suicidio que algumas pessoas não dizem a palavra, alguns jornais não publicam notícias déle e mesmo cientistas têm-no evitado como objeto de pesquisa.
Não é de admirar que meu amigo e conselheiro ficasse alarmado diante da meia dúzia de títulos sugeridos para o manuscrito dêste livro. Todos êles envolviam êsse sombrio tema, um tema capaz de repelir os próprios leitores que mais apreciariam as conclusões finais da análise. Como já sugeri, chegaremos à conclusão final de que há muitos meios pelos quais a vontade do viver pode triunfar sôbre o desejo de morrer, muitos recursos para libertar-se da autodestruição, mas antes de analisá-los precisamos examinar o lamentável fato de que homens se matam e que imitar o avestruz em nada diminui essa realidade.
No decorrer dos últimos vinte e quatro minutos, em algum lugar dos Estados Unidos um hontem matou-se. Isso acontece cêrca de sessenta vezes por dia, em todos os dias; 22.000 vezes por ano. Isso só nos Estados Unidos; a frequência é duas vezes maior em alguns países europeus. Em tôda parte é mais frequente que o homicídio.
Em tais circunstâncias, seria de esperar que houvesse amplo interêsse pelo assunto, que estivessem em andamento muitos estudos e pesquisas, que nossas publicações médicas contivessem artigos e nossas bibliotecas livros sôbre a matéria. Não é o que acontece. Há romances, peças e lendas em abundância que envolvem suicídio — suicídio em fantasia. No entanto, é surpreendentemente pequena a literatura científica que trato disso. Essa, penso eu, é outra indicação do tabu que está ligado ao assunto — um tobu relacionado com emoções fortemente reprimidas. As pessoas não gostam de pensar séria e concretamente no suicídio.
De fato, meu próprio interesse por êsse assunto nasceu de meu espanto e curiosidade diante das operações dêsse tabu em relação a parentes de alguns de meus pacientes. O que aconteceu foi isto: pacientes confiados a nossos cuidados no fundo de uma depressão temporária na qual ameaçavam suicidar-se começavam a melhorar e logo depois parentes procuravam retirá-los, ignorando completamente nossa advertência de que era cedo demais, que ainda havia perigo de suicídio. Frequentemente ridicularizavam a idéia de que tal coisa pudesse ser praticada por seu parente, insistiam que êle estava apenas blefando, que estava momentaneamente desesperado, que não falava sério, que não faria aquilo e assim por diante. Alguns dias ou semanas depois, os jornais publicavam a notícia da morte de nosso ex-paciente por enforcamento, tiro ou afogamento. Tenho um grande arquivo cheio desses recortes e, prêsa a êles, a advertência textual feita aos impetuosos parentes.
Por exemplo, um bom amigo meu, que estava sendo tratado durante uma depressão, foi acordado, tirado da cama e retirado do hospital no meio da noite por uma parenta contra quem sentia hostilidade, mas a quem era obrigado a obedecer. Advertimos essa parenta que era extrema imprudência retirar o paciente, que no fundo de sua depressão êle poderia praticar suicídio; o próprio paciente odiava deixar o hospital e implorou para que o deixassem ficar. Foi levado por essa parenta de um lugar para outro e finalmente para casa, a fim de lá recuperar a saúde sob os cuidados dela; pouco tempo depois se matou. Era um cientista, um homem competente, um homem de futuro.
Vi isso acontecer com tanta frequência que me interessei pelo problema de saber porque as pessoas não consideravam o suicídio como uma realidade e evita-lo como sua responsabilidade. Nós, médicos, que tão arduamente trabalhamos para salvar vidas que às vêzes não nos parecem dignas de ser salvas, deveríamos também ter certa responsabilidade pela salvação dessas vidas que muitas vêzes oferecem tantas promessas e que são destruídas, por assim dizer, em um momento de impulsivo mau julgamento, um momento de determinada incompreensão, como a de Romeu quando encontrou Julieta adormecida e pensou que ela estivesse morta. Contudo, nao podemos fazer isso sozinhos. Esforçamo-nos por conquistar a cooperação dos parentes para evitar a concretização de um suicídio potencial e os parentes deviam — se são humanos — levar a sério tais advertências e agir de acôrdo com eles. O fato é que o suicídio continua a atrair muito menos atenção do que sua seriedade e sua prevalência parecem justificar.
O assunto e grande demais para ser tratado amplamente em um único livro. Não tentarei apresentar os aspectos históricos, estatísticos, sociológicos ou clínicos do suicídio, mas darei ênfase ao exame dos fatôres psicológicos inconscientes (e por isso geralmente descurados). The Encyclopaedia Britanica, Hastings Encyclopaedia of Religion and Ethics e livros de referências semelhantes estão repletos de interessantes relatos sôbre as várias técnicas, atitudes, consequências e interpretações do suicídio. Muitos dêles mudam com a passagem do tempo e diferem grandemente nos vários países. Estudos estatísticos interessaram numerosos escritores, particularmente autoridades em seguros de vida, embora a maioria dessas estatísticas tenha uma margem de êrro reconhecidamente grande. Até onde vão, as estatísticas indicam que nos povos civilizados o suicídio é muito mais comum entre homens, embora mulheres tentem suicidar-se com mais frequência do que homens. Nos homens a frequência de suicídio varia em proporção direta à idade; é duas vêzes mais frequente entre homens de 40 anos do que entre homens de 20 anos. Não existe tal variação entre mulheres. O suicídio é mais frequente na primavera do que em qualquer outra estação, mais frequente entre solteiros do que entre casados, mais comum nas áreas urbanas do que nas rurais, mais frequente em tempo de paz do que em tempo de guerra e mais comum entre protestantes do que  entre católicos.
Poder-se-ia esperar alguma coisa dos psicanalistas, cujo interesse pelos tabus resulta do conhecimento dos podêres psicológicos da repressão. Todavia, mesmo êles só contribuíram com pouco. Para sermos justos, porém, devemos acrescentar que, embora o ato de suicídio propriamente dito não tenha sido completamente investigado por êles, a intenção de praticar suicídio foi objeto de muito estudo da parte de Freud, Abraham, Alexander e outros. No próximo capítulo, seguiremos suas pegadas e entraremos no tabu que envolve o assunto e nas repressões ainda mais fortes que protegem os motivos secretos que parecem convergir no sentido de induzir ao ato de suicídio.
Parte II - 2 / Os motivos
A primeira vista, parece gratuito oferecer uma explicação do suiocidio. Na mente popular, o suicidio não é um enigma. Explicações faceis podem ser lidas com monotonainvariabilidade no jornais diarios, nos relatorios de seguros de vida, nos atestados de óbitos e em levantamentos estatisticos.
O suicidio de acordo com essas fontes é consequencia simples e logica de doença, desanimo, revezes financeiros, humilhação frustração ou amor não correspondido. O que mais espanta não é serem essas explicações apesentadas continuamente, mas serem aceitas tão promtamente e sem discussão em um mundo no qual tanto a ciencia como a experiencia cotidiana confirmam que o óbvio não merece confiança. Não existe tal credulidade ou falta curiosidade, por exemplo, com relação aos motivos do homicidio.
A mais ligeira reflexão é suficiente para convencer qualquer um de que explicações tão simples quanto as mencionadas anteriormente não explicam coisa alguma.
A análise popular do suicidio poderia ser reduzida à seguinte fórmula: O suicidio é uma fuga de uma situação de vida intoleravel. Se a situação é externa, visivel, o suicidio é corajoso; se a luta é interna, invisivel, o suicidio é loucura. Esta conscepção da autodistruição como fuga da realidade, da doença da desgraça,da pobreza ou de coisas semelhantes é sedutora devido à sua simplicidade. Equipara-se a outras fugas, como tirar férias ou celebrar feriados, dormir, vaguear em delírio ou recorrer à embreaguez.
Contudo, existe uma diferença essencial entre essas fugas, que tem todoas elas a natureza de substitutos temporarios, e o suicidio que não é temporario. Não se pode substituir alguma coisa por nada, coomo refletia Hamlet em seu celebre solilóquio. Pode-se considerar axiomatico que a mente humana não é capaz de conceber a existencia e, portanto por mais agnostica ou cética que a pessoa que cogita de suicidio possa acreditar ser, seu ato trai a sua crença em alguma especie de vida futura mais toleravel que a vida presente.
Por si só isso não é prova de que o suicida já tenha começado a aceitar a irealidade em lugar da realidade de maneira irracional, pois a vida futura é aceita por milhões de pessoas e constitue o aspecto essencial de muitas religiões. Embora seja rejeitada intelectualmente por muitos cientistas e outros, emocionalmente a expectativa de uma vida , ou melhor, ou melhor de uma vida contínua é inerente ao inconsciente de todos nós, humanos, é nossa inteligengia que " torna todos nós covardes".A análise popular esboçada anteriormente se aproximaria mais da verdade, portanto, se fosse articulada de modo a dizer que o suicidio é uma tentativa de fuga de uma situação de vida intoleravel. Isso chamaria mais vivamente nossa atenção para sua irracionalidade e para o poder exercido em tais indivíduos pela fantasia.
Deixaria ainda sem correção o erro que existe na presunção implicita de que provem inteiramente de fora as forças que induzem a fuga. O comprtamento nunca é determinado apenas por forças externas; há impulsos de dentro, cujo ajustamento à realidade externa cria necessariamente pressões e tensões que podem ser muito dolorosas, mas toleráveis, exceto para alguns.
Poderiam ser reunidas inumeros exemplos da história e dos registros clínicos cientificos para mostrar que, por mais terrivel que seja, é insuportável.
Isso por que sabemos que o individuo, em certa medida, sempre cria seu proprio ambiente e assim o suicida ajuda de alguma maneira a criar a propria coisa da qual foge através do suicidio. Portanto, para explicarmos o ato dinamicamente, somos forçados a procurar uma explicação para o desejo de colocar-se em uma situação da qual não se possa fugir, a não ser pelo suicidio, em outras palavras, se, para seus propropios propositos inconscientes, a pessoa encontra na realidade externa uma aparente justificação para autodestruição, os propositos inconcientes tem maior significação na compreenssão do suicidio do que circunstancias externas aparentemente simples e inevitáveis.

destruição, os propósitos inconscientes têm maior significação na compreensão do suicídio do que circunstâncias externas aparentemente simples e inevitáveis.
Isso é muito bem apresentado por numerosos romancistas que descreveram a maneira como o homem que finalmente pratica sulcídio começa sua autodestruição muito tempo antes. O titulo de um dêsses romances é derivado de uma lenda famosa, da qual esta é uma versão: Um servo procurou amedrontado seu senhor dizendo que fôra ameaçado pela Morte, com quem esbarrara na praça do mercado, e por isso desejava ir o mais depressa possível para Samarra, onde a Morte não o encontraria. O senhor deixou-o ir e dirigiu-se depois para, a praça do mercado. Lá, vendo a Morte, perguntou-lhe porque ameaçara o servo. Ao que a Morte respondeu que não fôra uma ameaça, mas um gesto de surprêsa por ver em Bagdá o homem com quem tinha um encontro marcado para aquela noite em Samarra.
A história tem sido atribuída a cêrca de cinqüenta origens, segundo Alexander Woolcott, inclusive a Longfellow, Voltaire e Cocteau, e tem sem dúvida origem muito antiga, segundo acredita
Woolcott. Isso indica que a idéia de que a pessoa tem inexorávelmente um encontro marcado com a morte, embora ostensivamente se empenhe em fugir dela, é intuitivamente reconhecida como fenômeno comum da experiência humana, seja a fôrça propulsora em direção à morte projetada sôbre o Destino ou reconhecida como impulso autônomo.
Todos nós sabemos agora que não se pode confiar em motivos conscientes para explicar o comportamento humano. Há muitos casos em que os motivos não podem ser confessados, não podem ser inter-
pretados e, ainda mais pertinentemente, não são no mínimo grau reconhecidos pela própria pessoa. A psicanálise permite-nos em um caso particular vencer êsses obstáculos porque nos dá acesso aos
motivos inconscientes. Portanto, é através dessa fonte de estudo que podemos transformar a aparente irracionalidade do suicídio ou sua inadequada explicação em algo inteligível.
As observações já se acumularam a tal ponto que isso pode ser feito, imperfeitamente sem dúvida, mas pelo menos em esbôço.
São essas conclusões que tenho o propósito de expor ao leitor de maneira sistemática. Para isso, porém, precisamos antes eliminar a ingênua noção de que o suicídio é um ato simples e reconhecer
que do ponto de vista psicológico é muito complexo, independente- mente do que possa parecer. De fato, um obstáculo considerável ao estudo do suicídio é a presunção popular de suas ligações causais simples. Se fôsse tão simples, êste livro não teria a menor justificação, mas por outro lado o suicídio seria infinitamente comum.
Anuncia-se um dia que um homem rico suicidou. Descobre-se que seus investimentos falharam, mas sua morte proporciona vultoso seguro à sua familia, que sem isso ficaria desamparada.. O
problema e sua solução parecem então bastante simples e óbvios.
Um homem enfrentou corajosamente a ruína de maneira a beneficiar seus dependentes.
Mas por que começaríamos nossas interpretações sómente neste ponto adiantado da vida de tal homem, o ponto em que êle perde sua riqueza?. Não deveríamos procurar descobrir como êle chegou a perdê-la? E, ainda mais pertinentemente, não deveríamos indagar como êle ganhara, por que fôra levado a juntar dinheiro e que meios empregara para satisfazer sua compulsão, que sentimentos de culpa inconscientes e talvez também conscientes estavam associados a ela e que sacrifícios e penas sua aquisição custara a
êle e sua familia? Além disso, mesmo aquêles que ganharam dinheiro e o perderam na vasta maioria dos casos não se mataram, de modo que ainda não sabemos quais foram os motivos mais profundos dêsse homem para tal ato determinado. Tudo quanto podemos realmente ver em tal caso é como se torna difícil e complexo o problema assim que lançamos um olhar mais que superficial sôbre as circunstâncias. 
Ou tomemos um exemplo representativo como o do caixa do banco de uma cidade "pequena, indivíduo quieto, amistoso merecedor da confiança geral, conhecido de quase todos os membros da
comunidade. Certa tarde, depois de encerrado o expediente do banco, êle se fechou em seu escritório com um revólver e foi encontrado morto na manhã seguinte. Descobriu-se posteriormente um
deficit em seus livros e ficou provado que êle se apropriara indébitamente de milhares de dólares dos fundos do banco. Seus amigos durante algum tempo recusaram acreditar que fôsse possível um
homem tão conhecido e digno de confiança ter feito isso; finalmente, porém, a opinião geral foi que-êle de repente se tornara irracional, cedera a irresistível tentaçãoâ e.depois Stlcllmblrab a:
remorso, do qual o suicídio fôra a sequencia apropriada, em Ortrágica.
_ Algumas semanas mais tarde, Revelou-se que o homem tivera "um caso com uma mulher
explicação de seu suicídio que fôra tao simples ficou entao atrapalhada; era preciso reabrir a e
"É essa então a verdadeira explicaçao do caso , dlsife gente f¡cidade. "Quando um homem casado e com filhos, sobrio e respeitável, se envolve em um caso imoral logo esquece tudo sobre a
honra." Outra versão foi esta: "Êle simplesmente precisava tirar o dinheiro para manter a mulher. 
Foi ela quem realmente o matou." 
Observadores mais ponderados, porém, certamente ¡nvestigarram a verdadeira significação de um complicado caso sexual dessa especie na vida de um homem que parecia normalmente ajustado, pelo
menos para saber porque tal fascinação o teria tornado incapaz de resistir à tentação financeira. 
Só alguns de seus amigos mais íntimos sabiam que suas relações com sua espôsa haviam sido muito infe-
lizes e só seu médico sabia que durante vinte anos de vida conugal os dois haviam sido continentes devido à frieza da espôsa. "No fundo foi culpa de sua espôsa", diziam êsses poucos. "Ela sempre foi fria e sem simpatia." Contudo, não é evidente que isso ainda não explica tôda a questãoo curso da tragédia? "Por que se casara êle com tal mulher? Não poderia ter modificado as reações emocionais dela? Por que continuara a viver com ela durante vinte anos?"
Então alguém que tivesse conhecido êsse homem quando criança poderia ter erguido sua voz: "Oh, mas você não conheceu a mãe dêle! Era também uma mulher fria e dura, mais interessada por
dinheiro do que pelos filhos. Não é de admirar que êle tenha sido incapaz de fazer uma escolha matrimonial mais inteligente ou de lidar com a espôsa de maneira mais competente e satisfatória. Sim, se você tivesse conhecido a mãe dêle. , _" Levamos agora a corrente causal bem para trás da explicação
simples que parecia tão evidente aos conterrâneos do homem. Vemos como era errônea e superficial a explicação inicial. Não devemos presumir que o simples fato de estender os elos da cadeia elucide
mais plenamente os motivos. O que faz é mostrar como o ato parece diferente à luz de cada indício adicional, mas ainda dispo- mos apenas dos dados mais óbvios e externos. Nossa história está
um pouco mais completa que a dada pelo jornal, mas ainda não explica porque a vida dêsse homem precisou scr tão crescentemente mal sucedida e porque êle precisou termina-la com suicídio. Tudo
quanto podemos ver é que êsso homem começou a suicidar muito tempo antes de tomar o revólver na mão e muito tempo de tirar o dinheiro do banco. Ainda não sabemos porque êle não foi capaz de mobilizar seus instintos de vida com mais êxito contra essas tendências destrutivas que o dominaram.
Temos razão, porém, para presumir que êste método de lidar com a vida é determinado por alguma variação, anormalidade ou fraqueza inerente ao indivíduo ou pela aceleração ou poderoso
refõrço das tendências destrutivas da personalidade durante o período de formação da vida. Em qualquer dos casos, é evidente que as tendências autoderrotadoras surgem muito cedo na vida
do indivíduo e influenciam fortemente todo o curso de seu desenvolvimento de maneira a obscurecer e finalmente vencer o benigna instinto de vida.
Essa opinião sôbre suicídio afasta completamente os ingênuos julgamentos quanto à sua "bravura" ou "irracionalidade" e tôdas as explicações causais que aparecem nos resumos estatísticos e coisas
semelhantes. Psicolõgicamente, repito, o suicídio é um ato muito complexo e não um simples, incidental e isolado ato de impulsão, lógico ou inexplicável. A análise de seus motivos torna-se difícil
não só devido à insegurança dos motivos conscientes e óbvios, mas especialmente pelo fato de um suicídio consumado ficar fora do alcance de estudo e (como veremos mais adiante) o malôgro em conseguir êxito -- mesmo no suicídio - tender a expressar com precisão a resultante matemática de desejos componentes - conscientes e inconscientes - atuando como vetores. Se o homem descrito anteriormente ainda estivesse vivo e disposto a ser objeto de investigação, poderíamos analisar as primeiras influências e experiências, e determinar que tendências específicas causaram sua ruína. -Êste é um ponto importante porque é perfeitamente lógico perguntar como se pode falar em motivos de suicídio quando a pessoa esta' morta e portanto não pode ser psicanalisada. A resposta é simples, porém. Foram feitos estudos psicanalíticos de muitas pessoas que tentaram o suicídio de maneira decidida e realística, só tendo sido salvas devido a descoberta acidental por amigos, parentes ou policia antes que o gás ou o veneno tivesse exercido plenamente seus efeitos. Além disso, alguns pacientes cometeriam suicidio durante seu tratamento se não fôssem as medidas preventivas' adotadas pelos médicos e enfermeiras. Os motivos dêsses indivíduo são empiricamente conhecidos por nós. Finalmente, tendencias a suicídio, incompletas, mas claramente definidas, aparecem no de-
correr do tratamento psicanalítica de muitos pacientes. É uma combinação dos resultados de observação psiquiátrica e psicanalitica em tôdas essas oportunidades de pesquisa, feitas não só pelo
autor, mas também por muitos predecessores e contemporâneos, que constitui a base do que se segue. a
TRÊS COMPONENTES DO ATO SUICIDA 
Não é difícil descobrir no ato de suicídio a existência de vários elementos. Antes de tudo é um homicídio. Na língua alemã é literalmente o homicídio de si próprio (Selbstmord) e em todos os equivalentes filológicos mais antigos a idéia de homicídio está implícita.
Todavia, o suicídio é também um homicídio por si próprio. É uma morte na qual estãocombinados em uma só pessoa o assassino e o assassinado. Sabemos que os motivos de homicídio variam
enormemente e o mesmo acontece com os motivos do desejo de ser assassinado, o que é uma questão inteiramente diferente e não tão absurda quanto possa parecer. Isso porque, havendo no suicídio
um eu que se submete ao homicídio e parece desejoso de fazê-lo,
Ocasionalmente as vítimas de suicidio reconhecem e confessam alguns dos motivos inconscientes que induzem ao ato, durante o intervalo entre a execução do ato e o momento da morte. Isso é particularmente vivido em casos como os representados pelos seguintes recortes de publicações:
MATOU-SE QUANDO SONHAVA 
Viveu apenas o suficiente para explicar o estranho disparo
ROSEBURG, Oregon, 13 de março AP) - Um tiro de revólver disparado
durante um sonho, segundo informou aqui a polícia estadual, matou Phillip Pezoldt, (proprietário na remota região de Diamond Rock. Ouvin o um tiro, a sra. Louis Neiderheiser foi até o quarto de Pézoldt
em sua cabana e encontrou-o agonízante, segundo relatou às autoridades.
Disse que êle contou arquejante que estava sonhando, tirou um revólver debaixo de seu travesseiro e disparou-o contra si próprio. Topeka Daily Capital, 14 de março de 1935.
Em Staunton, Vancouver, Arthur' Foumier adorrneceu em um ônibus sonhou que estava dormindo em um navio que afundava. Ainda adonneodo, levantou-se e gritou: "Ele está afundandol Saltem para salvar suas
vidas!" Não sendo tolo para ermanecer em um navio que afundava Arthur Foumier saltou pela janela e morreu. 
devemos procurar os motivos dessa estranha submissão. Se o leitor imaginar uma cena de batalha, na qual um homem ferido esta sofrendo muito e implora que o matem, compreenderá prontamente que os sentimentos do homicida seriam muito diferentes, conforme fôsse êle amigo ou inimigo do homem feriuo; os do homem _que deseja ser assassinado, isto é, ser livrado de sua agonia, seriam iguais em ambos os casos. 
Em muitos suicídios é perfeitamente evidente que um desses elementos é mais forte que o outro. Vemos pessoas que querem morrer, mas não são capazes de dar o passo contra si próprias; jogam-se diante de trens ou, como o rei Saul e Brutus, rogam a seus escudeiros que as matem.
Por fim, provavelmente nenhum suicídio é consumado a menos que - além de seu desejo de matar e de ser morta -- a pessoa suicida deseje também morrer. Paradoxalmente, muitos suicidas,
apesar da violência do ataque contra si próprios e apesar da correspondente rendição, não parecem muito ansiosos por morrer. Todo interno de hospital já lidou na enfermaria de emergência com candidatos a suicídio que lhe imploram para que salve suas vidas.
O fato de morrer e ser morto atingirem o mesmo fim no que se refere à extinção pessoal leva o indivíduo de mentalidade prática a pensar: "Se uma pessoa deseja matar-se ou se se sente tão mal
em relação a alguma coisa que está disposta a ser morta, certamente também deve desejar morrer." Todavia, o exemplo dado há pouco é apenas uma das muitas indicações de que tal não acontece. Matar ou ser morto envolve fatôres de violência, enquanto morrer se relaciona com a entrega da vida e felicidade da pessoa.
Uma discussão mais completa dêsses dois elementos será apresentada mais adiante. No momento, é suficiente acentuar que na tentativa de suicídio o desejo de morrer pode estar ou não estar
presente ou pode estar presente em grau muito variável, o mesmo podendo acontecer com os outros desejos mencionados. Resumindo, portanto, o suicídio deve ser considerado como uma
espécie peculiar de morte que envolve três elementos internos: o elemento de morrer, o elemento de matar e o elemento de ser morto. Cada um deles exige análise separada. Cada um dêles é um ato para o qual existem motivos, inconscientes e conscientes.
Os últimos são em geral bastante evidentes; os motivos inconscientes serão agora nosso principal objeto de consideração.
1. O DESEJO DE MATAR .
O instinto destrutivo que dorme até mesmo no coração da criancinha começa a tornar-se aparente como agressividade dirigida externamente acompanhada de raiva quase desde o momento do nascimento. Experiências feitas por psicólogos de comportamento e observações de analistas de crianças tornaram claro além de qualquer dúvida que contrariar ou ameaçar contrariar o bebê, mais nôvo que seja, provoca intenso ressentimento e protesto. Nao precisamos de experimentação para mostrar que o mesmo acontece com adultos. A perturbação do conforto pré-natal da criança pelo violento ato do nascimento é a primeira dessas contrariedades. Mais concretamente aparentes são as reações da criança à aproximação de um rival e à ameaça de privação de satisfações como amamentação. Essas ameaças vigorosamente enfrentadas por ataque provocam de pronto os impulsos agressivos (antes auto-absorvidos).
Em essência, o objeto do ataque é a destruição do intruso. Ligados a isso há sentimentos de ressentimento e de mêdo - mêdo de represália e de outras conseqüências. O resultado líquido é o desejo
de eliminar a fonte da ameaça de privação, do objeto do mêdo. Pode haver subseqüentemente mêdo de conseqüências provenientes de outros setores.
Eliminar, afastar, aniquilar são todos sinônimos eufemísticos de destruir. Tais desejos, na linguagem prática mais especializada do adulto civilizado, representam simplesmente o desejo de matar não em seus aspectos sadísticos agradáveis, mas em seus primitivos propósitos autodefensivos. Comumente, é claro, exceto na sociedade incivilizada de selvagens, criminosos e psicóticos, êsse desejo é inibido. É inihido por numerosos fatôres, externos e internos, que discutiremos pormenorizadamente mais tarde. O mais poderoso dêsses dissuasores é um impulso neutralizador, que resulta igualmente da vida instintual do indivíduo. As agressões são atenuadas pela mistura de sentimentos positivos; o Ódio, VÍm.
Se amor, de maneira mais ou menos completa. O intruso passa a ser um sujeito não muito ruim, com quem vale a pena negociar, mais tarde cooperar e mesmo aliar-se. O leitor pode pensar em
numerosos exemplos disso: os gregos e os romanos, os saxoes e os normandos, os índios americanos e os colonizadores e numerosos exemplos pessoais do inimigo declarado que se torna amigo cordial:
Isso nem sempre acontece, naturalmente; às vêzes a hostilidade e grande demais para ser vencida e às vêzes é de tão curta duração que não conseguimos sequer lembrar de ter tido outra coisa alem
dos mais benignos sentimentos em relação ao indivíduo desde o início. Trata-se de um princípio acentuado por Freud, a saber, que a hostilidade em geral abre caminho para o contato com novos
objetos, que o quente manto do amor cobre depois aos poucos como vegetação que progressivamente reveste uma encosta pedregosa.
Se os impulsos destrutivos, o desejo de matar, sejam dirigidos para fora ou voltados para o eu, forem suficientemente neutralizados de modo a desaparecerem completamente por trás das evidências de sentimentos positivos construtivos, o resultado não sera' mais destruição ou homicídio, mas construção e criação, a formação de vida e não a eliminação de vida. Nesse sentido, a procriação, o
ato do coito, é a antítese polarvdo homicídio. Construtividade e criatividade podem ser naturalmente, para outra forma além dessa forma biológica imediata. E em deferência à velha moral que
sustentava que quanto mais primitivo um processo, "mais baixo" era, êsses "desvios para cima" foram chamados de sublimações. Um desvio ou deslocamento lateral por exemplo, matar um veado em
lugar de um membro da família - não é, estritamente falando, uma sublimação, embora 'as vêzes assim o chamemos. _Se a infusão do elemento erótico, do "instinto de vida", não é suficientemente forte para neutralizar as tendências destrutivas, pode ainda assim alterar consideravelmente seu caráter, de modo que a destruição, embora ainda seja o objetivo e a realização, se torna menos completa e executada menos diretamente. Pode haver uma alternação de propósitos; vê-se isso nas mudanças de disposição e sentimento entre amantes, amigos e inimigos. A gente imagina poder observa-lo nas ondas alternadas de crueldade e compaixão demonstradas por um gato em relação ao camundongo capturado ou por alguns pais em relação a seus filhos. Todavia, em sua forma mais conhecida a erotização parcial da crueldade aparece como sadismo a ebuliçao de prazer consciente no ato de destruição. Tao desagradavel e este fenomeno em suas manifestações mais cruas que a prmeira vista parece dificil acreditar que possa representar alguma melhora tende-se .a pensar que a erotrzaçao da crueldade aumenta ao ¡nvcs de diminuir sua virulência. O homem que bate em um cavalo e (lá demonstraçãode prazer sensual ao faze-lo despertaI em nos maior ressentimento que o homem que mesmo por raiva e sem outra razão boa, mata a tiro seu cavalo,pensamos no primeiro como estimulado à sua maior crueldade pelo que chamamos de sexualidade pervertida e anormal. E nisso estamos certos em parte. Sua sexualidade e pervertida por ser parcial: se fosse completa, impedi-lo-ia não só de matar o cavalo, mas tambem de bater nele. O homem que mata logo seu cavalo pode parecer mais humano, mas a lógica obriga-nos a considera-lo menos civilizado e mais destrutivo ate mesmo que o chicoteador sádico.Isso se torna imediatamente evidente se substituirmos o cavalo
por uma criança. O homem que mata seu filho por irritação ou por qualquer causa é considerado pela sociedade como digno de morte. A erotização parcial da agressividade incontrolável dêsse
homem poderia ter substituído o homicídio por um lascivo açoítamento da criança, que poderia levá-lo à cadeia ou ao asilo, mascertamente não seria um crime capital. Um pouco mais de erotização e o que chamamos de sadismo funde-se naquelas bondades severas e ostensivas que caracterizam
muitos mestres-escola, juízes e outras pessoas com autoridade, os
quais aplicam amorosamente o que asseguram à sua vítima "ferir-me mais do que a você". Isso nem sempre é punição. Pode ser uma insistência compulsiva em favor da regra e do ritual em nome
de um elevado ideal - lei, educação, religião ou formação do caráter. A hipocrisia disso em geral absolutamente não é reconhecida por seus autores, mas é reconhecida por suas vítimas.
A destrutividade voltada contra o eu pode ser erotizada parcial ou completamente. Às vêzes êsse prazer em torturar-se, do qual falaremos de nôvo na próxima seção, parece aumentar as motivaçoes 
Realmente, devemos lembrar-nos de que êle sempre representa uma graça salvadora _ insuficiente, é claro,
mas bastante para mudar a côr e a aparência, senão efetivamente contrariar a destrutividade total do ato.
Freqiientemente se vô como, depois de tal provocação, a maré Vazante da zigressivitlaidtv só e impedida de efetuar 0 suicídio imediato pela mais valente. e persistente luta por parte dos impulsos emtieos. Às vezes em uma série de episódios pode-se ver os últimos perdendo terreno e o suicídio efetivo ocorre finalmente. Um caso desses eu já relatei antes (o do caixa que deu um desfalque). Em ocasiões, o instinto de vida parece predominar um pouco sobre as tendencias destrutivas e segue-se uma série de episódios nos quais há decrescente malignidade. Por exemplo, um homem que eu conheci ficou com tanta raiva de seu irmão que cogitouconseientenlente de mata-lo; conteve-se, porém, não apenas devido à lei e outras conseqüências, mas porque, por causa de sua mãe, sentia profunda obrigação protetora em relação a seu irmão. Ficou
com tanto remorso ao contemplar o que considerava como seus desejos criminosos que fêz várias tentativas de suicídio, tôdas as quais falharam completamente. Por motivos que não lhe eram
inteiramente claros, começou depois a dirigir seu carro com impru- dente abandono que parecia certamente levar a um resultado desastroso. Contudo, apesar de vários acidentes graves, não foi morto.
Em seguida, concebeu a idéia de expor-se a alguma doença que o matasse e deliberadamente tentou contrair sífilis por meio de repetidas exposições. Contudo, só conseguiu apanhar gonorréia, de cujo
tratamento se descurou completamente.
Voltou-se então para o álcool em uma série de bebedeiras. Apesar de tudo isso, continuou até êsse tempo a gozar das boas graças de sua espôsa e seu empregador, ambos os quais conheciam tão bem suas virtudes que não se deixavam cegar por seu inexplicável comportamento. Todavia, conseguiu depois brigar com ambos e perdeu sua posição, provocando deliberadamente discussões com seu empre-
gador e exasperando sua espôsa até o ponto de divórcio com declarações de que não a amava.
Longa e variada como é esta lista de agressões dirigidas contra si próprio, pode-se ver que representa uma série de intensidadedecrescente. O suicídio real foi evitado. Foram evitadas também
as conseqüências graves da maioria dos outros episódios; logo o homem arranjou outro emprêgo e a espôsa voltou para sua companhia.
Uma fusão mais completa de impulso?, construtivos e destrutivos resulta naquele apêgo positivo a objetos do ambiente que constitui a vida amorosa normal, evidenciada pela capacidade de discriminação entre verdadeiros inimigos e verdadeiros amigos.
Todos nós temos tais impulsos, tais ilesejos; isso não e anormal. Todavia, a maioria de nós é capaz
de resistir a eles e qualquer que seja o Sofisma invocado para tentar justificar ou glorificar o suicídio, o fato é que se trata de um homicídio, um clímax de destruição, e tem propósitos, motivos
e conseqüências relacionados com ôsse fato inevitável.
Basta, portanto, no que se refere ao desejo de matar resultante de destrutividade primitiva, investido de neutralização fraca em um ou vários objetos, cuja repentina retirada ou infidelidade desloca
o apego, separa os elementos do elo emocional e permite que o impulso homicida, então libertado. se aplique sôbre a pessoa de sua origem como objeto substituto, realizando assim um homicídio deslocado.
2. O DESEJO DE SER MORTO
Chegamos agora ao segundo elemento do suicídio. o reverso do motivo de matar, isto é, o desejo de ser morto. Por que alguém deseja, não morrer ou matar, necessariamente, mas ser morto?
Ser morto é a forma extrema submissão, assim como matar a forma extrema de agressão. de o gozo de submissão dor, derrota. mesmo extinção a extinção da vida. é a essencia da vida.
Certo paciente que tinha sido salvo do suicidio prometeu nao tentar suicdar-se de qualquer maneira ostensiva; contudo, estava certo de sofrer do coraçao e por isso começou a pratica¡ esport e vigorosamente na esperança de morrer de um ataque cardiaco. Isso teria tido (para ele) a dupla vantagem de realizar sua autodestruição e de refletir-se sôbre o mau discernimento dos médicos que lhe permitiram dedicar-se a tais esportes. Todavia, infelizmente para suas intenções conscientes, não morreu, mas, para espanto seu e de todos os demais, venceu o torneio de tênis, derrotando mesmo varios _jogadores muito experimentados e competentes. Sua reação a isso foi abandonar inteiramente o esporte, que lhe lalhara em seu propósito primordial.
A explicação do desejo de sofrer e submeter-se à dor e mesmo a morte é encontrada na natureza da consciência. Todos sabem, para finalidades práticas, o que é consciência. Temos um reconheclmento
intuitivo dela; temos conhecimento dela, assim como temos conhecimento do sistema policial de uma cidade onde nao vemos realmente policiais.
Contudo, esse conhecimento da conscienclta nao é muito cientifico. Esta agora determinado de maneira mu ito definida que consciencia é uma representaçao psicologica e interna de autoridade paterna.
e é em grande parte formada na infancia.
A consciencia é muitas vêzes um bom guia, mas às vêzes e um bom guia: e, bom ou mau, é preciso ser sempre levada em conta. como todos sabem, ela pode ser subornada e comprada,
mas não pode ser ignorada. O que não se sabe tão bem é que parte da consciencia algumas coisas a respeito das quais nos sentimos culpados sem saber. Muitas pessoas que pensam desconsiderar consciencia ou que insistem em que nunca sofreram um sentimento de culpa, mostram por suas ações que isso não é verdade. Todos nos estamos familiarizados com exemplos disso, como no caso da filha do ministro religioso que vai a Greenwich \illage ein uma revolta contra sua criação puritana. Fazendo estrêmo esforço evidentemente neurótico, ela consegue desafiar costume. convenção e moral; todavia, faz isso com tal veemência e com tão evidente infelicidade, que se tornou um tipo padrão de caráter representando a revolta desiludida e mal sucedida contra a tirania da consciência.
Acredita-se que o poder da consciência se deriva de uma parcela dos instintos agressivos e originais que, ao invés de ser dirigida para fora a fim de exercer efeito destrutivo sôbre o ambiente, é transformada em uma espécie de juiz ou rei interior. Suponha-se que uma pequena tribo de pessoas tentasse instalar-se em uma
grande terra desconhecida; os adultos do sexo masculino seriam em sua maioria mandados para fora como caçadores e soldados, para combater os elementos da região circundante. Alguns seriam deixados em casa, porém, como policiais para manter a ordem interna.
Se supusermos que alguns dêsses policiais estão vestidos à paisana e são portanto irreconhecíveis, teremos uma boa comparação com o que existe na organização interna da mente.
Governando a atividade da consciência existem certas leis com que chegamos a familiarizar-nos pela experiência clínica. Uma delas é que o ego precisa sofrer na proporção direta de sua destrutividade
dirigida para fora. É como se parte do instinto destrutivo conservado dentro do ego tivesse que continuar dentro do microcosmo da personalidade uma atividade precisamente comparável àquela 'que
o ego está dirigindo para o macrocosmo exterior. Se o individuo dirige um ataque de certa natureza contra alguma pessoa no ambiente, a consciência, ou superego, dirige um ataque da mesma natureza contra o ego. Esta fórmula é bem_ conhecida .pornos na organização social sob a forma de lex talwnzs, base intuitiva de todos os sistemas penais.
Em segundo lugar, o ego tem a difícil tarefa de. tentar ajustaras fortes exigências instintivas da personalidade nao _so as possibilidades oferecidas pelo mundo exterior, mas aos dltames da consciência_ Por exemplo, não só precisa lidar com a fome da pessoa e com o fato de ser dificil encontrar comida mas que sertos alimentos nao possam ser digerido.
Tenho também arquivado numerosos casos de irmãos e irmãs que se mataram. Em um desses casos, três irmãs se mataram simullaneamente.
Por mais impressionantes que possam ser êsses casos, não há prova cientifica convincente de que o impulso suicida seja hereditária e há muita prova psicanalítica mostrando que êsses casos de suicídios
numerosos em uma única família podem ser explicados com base psicológica. Superficialmente, há o elemento de sugestão( 28), porém mais profundo do que êle é o fato conhecido de que desejos incons-
cientes de morte atingem seu mais alto desenvolvimento contra membros da família e, quando um membro da família morre ou se mata, os desejos inconscientes de morte dos outros membros da família são
inesperadamente satisfeitos; isso produz uma repentina e esmagadora onda de sentimentos de culpa que substituem o desejo de morte então satisfeito. Essa onda pode ser tão grande e tão esmagadora a ponto
de tornar necessário que o culpado seja punido com a morte. Às vêzes, como todo psicanalista sabe, a pessoa faz ISSO sonhando que e executada, enforcada ou morta de alguma outra maneira, ou sen-(25) método empregado é muitas vêzes idêntico e mesmo as datas_ podem corresponder. A condessa de Cardigan, por exemp o, segun o 01 noticiado na imprensa, lutava com impulsos spicrdas todo ano no aniver-
sárío do suicídio de sua mãe, observando: 'Se eu nao me matar neste dia, sei que terei outro ano de vida." 
SIGNIFICAÇÃO DOS MIÉTODOS EMPREGADOS
Em relação à maneira como a necessidade de punição e o desejo de ser morto são satisfeitos pelo suicídio devemos dedicar certa conside. ração à significação dos métodos empregadosfConcorda-se em que,
estatisticamente, os homens parecem preferir matar-se a tiro e as '-mulheres tomar veneno, gás ou água (afogamento). Isso evidente- . mente tem relação com os papéis masculino e feminino na vida, isto
é, agressivo ativo e receptivo passivo.
Muito sugestiva é a consideração de alguns dos métodos mais incomuns. Ilustram êles claramente a necessidade de punição e, pela forma de punição, sugerem freqüentemente valôres eróticos par-
ticulares associados a certos atos simbólicos. O seguinte trecho de um artigo publicado há trinta anos não pode ser superado quanto à clara exposição dêsses fenômenos:
Nada é mais surpreendente nos registros de suicídio do que a extraordinária variedade e novidade dos métodos a que o homem recorreu em seus esforços para fugir do sofrimento e dos infortúnios da vida. Naturalmente sería de supor que uma pessoa decidida a cometer suicidio o gana da maneira mais fácil, mais conveniente e menos dolorosa; mas a literatura sôbre o assunto prova conclusivamente que centenas de suicidas, todo :É: põem têrrno à própria vida das maneiras mais difíceis', angustlantesbÊvãl de
ordinárias; que dificilmente existe um método possivel ouoconce 1 .omal autodestruição que não tenha sido tentado. Quando recortei de urfêdàrem meu primeiro caso de autocremação com querosene e fosforo. 
.
Antigamente métodos tão extraordinários quanto êsses teriam sido considerados apenas como indicações da natureza insana do ato de suicídio, mas isso quando ainda acreditávamos ignorantemente que
o chamado comportamento insano não tinha significação. O trabalho de Freud e, nesse sentido particular, também o trabalho de ]ung(3°) aguçaram há muito tempo os olhos e a compreensão dos
psiquiatras para a natureza significativa de tôda palavra e ato do paciente psicótico. Comportamento psicótico é ininteligível para os não iniciados, em parte por revelar o conteúdo do inconsciente de
maneira tão franca, tão clara e indisfarçada. Há, naturalmente, outras razões, uma das quais é o tipo mais arcaico de simbolismo usado. Tôda fala humana é baseada no uso de simbolismo, mas em
sua maior parte os símbolos são arbitrários e mecânicamente padronizados, ao passo que a linguagem e o comportamento do paciente psicótico fazem uso de símbolos mais primitivos que são pouco conhe-
cidos apesar de sua universalidade.
Não temos o direito de ignorar a significação de determinado método de cometer suicídio por achá-lo sem sentido. À luz da expe- riência clínica sabemos com razoável grau de certeza o que significam alguns dêsses símbolos e portanto dêsses métodos. Tomemos, por exemplo, o caso acima mencionado de suicídio em que a pessoa abraça um fogão aquecido ao rubro.
Médicos que conhecem muito bem seus pacientes não podem acreditar que êles tenham pensamentos tão repulsivos. Deve-se lembrar que os proprios pacientes ficam mais chocados que qualquer outra pessoa quando alguém os descobre. É exatamente essa terrível repngnínneia e o ¡nôdo (toineiclente de punição que causam tanta tensão em um paciente cujo treinamento oral inicial foi de alguma maneira (lefieiente ou supercomlieionatlo, a ponto de predispô-lo, sem seu eonheeintento consciente, a tais desejos. Quando tal conflito se torna intolerável pode, como nos casos citados, mostrar-se ttessa terrível representação dramática da satisfação e punição per os. ñxattznneittts o que todos esses métodos podem ter significado em
todos os pormenores para esses indivíduos determinados nunca saberemos. mas sua semelhança com fantasias e sonhos neurótieos a que estamos muito familiarizados na psicanálise deixa pouca dúvida
quanto a. sua significação geral e reforça o que dissemos em relação aos ¡notivos de suicídio, isto e', que êle representa em um único ato um homicídio e uma expiação. Notamos, porém, que nesse homicídio e na submissão expiatória existe um nôvo elemento, um elemento que é menos violento e mais romântico. Êsse curioso elemento, cuja análise se mostrará muito mais importante do que poderia parecer inicialmente, é o elemento erótico.
O ELEMENTO ERÓTICO
Assim como atividades destrutivas dirigidas para outra pessoa ficam atenuadas ou mesmo inteiramente eneobertas por amor, a submissão passiva à violência pode tornar-se, como dizemos, erotizada, isto
é, pode oferecer certas oportunidades para que as tendências construtivas ou amorosas se desenvolvam e se misturem com as tendências agressivas, parcial ou completamente. Erotização significa
simplesmente, como já vimos antes, que essas qualidades construtivas que proporcionam prazer são acrescentadas ou sobrepostas.
Podem atingir o ponto de fusão parcial que aparece como satisfação sexual consciente no sofrimento. Obter prazer da dor é tecnicamente chamado de "masoquismo", fenômeno clínico que foi su-
jeito a muitas investigações psicológicas(""). É sabido que algumas pessoas gostam de ser espancadas e que isso é acompanhado porinconfundíveis indicações de prazer sexual, mas é dificil imaginar
que mesmo tais indivíduos se interessassem em ter sua dor deleitávcl levada ao extremo de serem espancadas até a morte. Nancy Sykes (de Oliver Twist) fêz isso, porém, e todos nós conhecemos
outras pessoas iguais a ela. Há informação de que alguns dos már Freud, Rado, Horncy e outros.
3. o DESEJO DE MORRER
Quem tenha estado sentado à beira da cama de um paciente que agoniza em conseqüência de um ferimento auto-infligido e ouvido os apelos por êle dirigidos ao médico para que salve sua vida, cuja
destruição apenas poucas horas ou minutos antes fôra tentada, deve ter ficado impressionado pelo paradoxo de alguém que desejava matar-se não desejar morrer!
A presunção popular é que tendo cedido a repentino impulso o paciente depois "mudou de idéia". Isso deixa sem resposta porque o ato teria provocado essa mudança. A dor em geral não é grande.
A perspectiva de morte é na realidade menor do que antes da tentativa, pois "enquanto há vida há esperança". Tem-se a impressão do que para tais pessoas a tentativa de suicídio é às vêzes uma
espécie de histrionismo insincero e que sua capacidade de lidar com a realidade é tão mal desenvolvida que elas procedem como se realmente pudessem matar-se e não morrer(39). Temos razão
para acreditar que a criança tem tal concepção da morte - que é "ir embora" e que dessas idas embora há muitas vêzes um retórno. De fato o conceito de uma vida futura, que é tão real para muitas pessoas, provavelmente se baseia nessa identificação entre morrer e ir embora. 
........ Um dia antes da data em que devia ser feita sua apresentação pública, notou por acaso uma carta no jornal que à sua mente desordenada pareceu como uma maldosa acusação contra si próprio. Imediatamente jogou o jomal e correu para o campo decidido a morrer em uma vala; mas ocorreu-lhe a idéia de que talvez pudesse fugir do país. Com a mesma violência passou a fazer apressados preparativos para
a fuga; todavia, enquanto estava ocupado em arrumar sua mala mudou de idéia, lançou-se dentro de um côche e ordenou ao homem que o levasse até o cais da Tôrr-e, onde pretendia jogar-se no rio, não refletindo que seria impossível executar êsse propósito naquele lugar público sem ser observado.
Quando se aproximou da água, encontrou um carregador sentado sôbre algumas mercadorias; voltou então ao côche e retornou a seus alojamentos no Templo. No caminho tentou beber o láudano, mas assim que erguia o vidro, uma convulsiva agitação de seu corpo impedia que êle chegasse a seus
lábios; e assim, lamentando a perda da oportunidade, mas incapaz de aproveitá-la, chegou a seu apartamento meio morto de angústia. Então fechou a porta e jogou-se na cama, com o láudano perto, tentando incitar-se ao ver; mas uma voz interior parecia constantemente proibi-lo; e, assim que
estendia a mãe para o veneno, seus dedos se contraíam e eram detidos por espasmos. Nessa altura alguns dos morador-es do local chegaram, mas êle escondeu sua agitação; e, logo que ficou sozinho, sofreu uma mudança e tao detestável lhe pareceu o ato que jogou fora o láudano e reduziu o vidro a pedaços. O resto do dia passou em forte insensibilidade e à noite dormiu como de hábito; contudo, quando acordou às três da madrugada, tomou seu canivete e descansou o pêso do corpo sôbre êle, com a ponta dirigida para
f' COWJãO. O canivete quebrou-se e não penetrou. Ao nascer do dia, levantou-Se e enrolando uma forte liga no pescoço, amarrou-a na guarda de sua cama. 
Todos os pessimistas, de Schopenhauer para baixo, estavam convencidos da conveniência da morte, mas não podiam escapar da necessidade de continuar vivendo(41).
Foram realizados estudos científicos que indicam ser extrenamente difundida a consciência de um desejo de morrer.
Tais pacientes, especialmente aqueles de inteligência superior o grau mais brando de doença, muitas vezes reunem argumentos quase irrespondíveis em favor da conveniência de morrer. Acentuam
com apaixonada eloqüência e com impecavel logica que a vlda e dura. amarga, futnl e sem esperança; que envolve mais dor que prazer; que para eles nao ha nela o menor proveito ou proposito
c nenhuma justificação concebível para que continuem vivendo. Cito uma de minhas pacientes que anotou algumas de suas amarguradas reflexões durante um período em que estava tão melancolica a
ponto de precisar ser constantemente confinada e vigiada:
Não me pergunte porque eu gostaria de morrer. Com uma disposição mais enérgica eu o desafíaria a dizer-me porque devo viver, mas agora só fico imaginando, e mesmo imaginar é difícil quando se tem uma convicção pre-concebida em favor da morte.
Obietivamexite falando, ou pelo menos tentando fazê-lo, estou delírante, mas fico muito aflita pelos delírios que tenho e não consigo saber onde temiina o delírio e começa a realidade. Vivo em um mundo em que o
delírio olha em meu rosto sob uma máscara horrível que me parece esconder a realidade. dao encontro sucessos encorajadores em reconhecimento para levar-me a es orão mais estrenuo. Eu gostaria muito mais de voltar minhas costas a tal mundo e misturar-me com os elementos insensíveís da terra ara não ter a
responsabilidade por suas. vampirescas monstruosidacies. ego que antigamente me satisfazia parece agora tão insignificante que eu me desprezo por ter sido ludribriada. 
Tais pacientes, especialmente aqueles de inteligência superior o grau mais brando de doença, muitas vezes reunem argumentos quase irrespondíveis em favor da conveniência de morrer. Acentuam com apaixonada eloqüência e com impecavel logica que a vlda e dura. amarga, futnl e sem esperança; que envolve mais dor que prazer; que para eles nao ha nela o menor proveito ou proposito e nenhuma justificação concebível para que continuem vivendo. Cito uma de minhas pacientes que anotou algumas de suas amarguradas reflexões durante um período em que estava tão melancolica a ponto de precisar ser constantemente confinada e vigiada:
Não me pergunte porque eu gostaria de morrer. Com uma disposição mais enérgica eu o desafíaria a dizer-me porque devo viver, mas agora só fico imaginando, e mesmo imaginar é difícil quando se tem uma convicção preconcebida em favor da morte.
Obietivamexite falando, ou pelo menos tentando fazê-lo, estou delírante, mas fico muito aflita pelos delírios que tenho e não consigo saber onde temiina o delírio e começa a realidade. Vivo em um mundo em que o
delírio olha em meu rosto sob uma m-áscara horrível que me parece esconder a realidade. fhlao encontro sucessos encorajadores em reconhecimento para levar-me a es orão mais estrenuo. Eu gostaria muito mais de voltar minhas costas a tal mun o e misturar-me com os elementos insensíveís da terra ara não ter a
responsabilidade por suas. vampirescas monstruosidacies.
O instinto de morte é provavelmente muito mais evidente nas atividades dos individuos temerarios do que nas meditações pes. simistais de pacientes inelaneólicos e filósofos. Como acentua Ale.
xander, nenhuma outra coisa pode explicar tão bem o prazer dos ali›iiiistas(*"), dos corredores de automovel, dos escaladores de edificios quando se expoem desneeessariamente a grandes perigos
Uma paciente minha provuravzi proposilatlamente lugares com correntes de vento para
svnlztr-se, na (rsperança de apanhar pneumonia e morrer. Que deter-mina, porótn, se essas mleeçoes serao ou nao fatals? Podemos supor junto (tom o hacteriologista que se trata inteiramente de uma quetão de relzições quantitativas entre vtrulencta e reststencla ou, em ouras palavras, de mera casualtdade? A possibilidade e que tais intenções se tornem sérias apenas nos casos em que ha tendenclas
suicidas fortemente ativas, das quais pode ou nao haver outras provas perceptíveis.
Há outra coisa que desejo mencionar: Tem sido sugerido que o desejo de morte pode ser apenas um disfarce do fenomeno .observado com freqüência e comumente interpretado como fantasias de
nascimento ou mais precisamente, desejo de voltar ao utero. Sendo que o suicidio por afogamento,- como eu. Já disse antes, seja particularmente claro em sua sugestao simpolica dessa tendencia.
:Rio não ser impossível, porém, que. essa interpretação seja uma exata inversão e que fantasias de nascimento e os vários fenômenos interprcetados como desejo 'de voltar à paz do'útero talvez sejam apenas representações pictoricas do que, no mvel mais profundo,
E o desejo inconsciente de morte.
Tôda a teoria de um instinto de morte e, portanto, também do elemento "desejo de morrer" no suicídio é apenas uma hipótese, em contraste com os demonstrados fatos da existência dos outros
ois elementos. É interessante, porém, especular quanto à sua ação precisa com o fenômeno do suicídio.
Para explicar completamente os fatos clínicos, somos obrigados pressupor uma porção não diferenciada da corrente original de nergia autodestrutiva ("instinto de morte") separada do que foi
'ansformado, de um lado, em agressão externamente dirigida a rviço da autopreservação e, de outro lado, na formação de consência. Podemos, portanto, supor mais que êsse remanescente não ferenciado de energia autodestrutiva finalmente concretiza a morte do indivíduo (normal) através da gradual emergência do
tado latente em que é (foi) temporariamente confinado pelas ividades dos instintos de vida. Na pessoa que comete suicídio, por outro lado, êle rompe repentinamente os laços que 0 prendem, adquire poder e dá fim imediato à existência do indivíduo. Essa interação das coisas deve ser considerada excepcional, só consumada em face de alguma fraqueza relativa do instinto de vida, isto é,
guma deficiência na capacidade de desenvolver amor, pois função do amor (o instinto erótico) transformar tendências des- :Jtivas em medidas de autodefesa e adaptações socialmente úteis, lz em consciência. Gradualmente, é claro, todos êsses recursos falham e a morte vence; mas às vêzes ameaça vencer prematuraente, com freqüência ajudada pelo funcionamento incompleto ou eficiente dos recursos amorosos ncutralizadorcs. Nesses casos, comoremos nos capítulos posteriores, é possível comprar imunidade _
nporária mediante sacrifício.
Encontra-sc uma ilustração análoga (que possivelmente depende_algum profundo paralelismo vitalístivo) na maneira como vegeçao se desenvolve c se espalha, transformando as substâncias duras e sem vida do solo inorgânico em macios e belos tecidos, ao mesmo tempo que preserva. esse solo da devastadora erosão e dissoluçãoa que estaria sem isso condenado. Enquanto cresce e viceja, a vegetação pode absorver e aproveitar os elementos da terra, do are da água, transformando-os nesse fruto temporário. Mais cedo ou
mais tarde, porém, os elementos inorgânicos vencem; o vento causa erosão e a água traz inundação, de modo que os nutridores da vida se tornam seus destruidores. Essas substâncias inorgânicas destroem
não apenas a vegetação, mas como todo agricultor sabe, para seu pesar, destroem também a si próprias; o solo desgasta-se, a umi- dade evapora-se e restam apenas ar e areia estéril.


3/ Recapitulaçao

Foi meu propósito nesta primeira seção acentuar os seguintes pontos:
Primeiro, que a destrutividade existente no mundo não pode ser tôda atribuída ao destino e às fôrças da natureza, mas deve em parte ser atribuída ao próprio homem.
Segundo, que essa destrutividade da humanidade parece incluir uma grande medida de autodestrutividade, em paradoxal contradição com o axioma de que a autopreservação é a primeira lei da
vida.
Terceiro, que a melhor teoria para explicar todos os fatos atualmente conhecidos é a hipótese de Freud sôbre o instinto de morte ou impulsos primários de destrutividade em oposição ao instinto de vida ou impulsos primários de criatividade e construtividade; são várias fases de interação entre êsses dois instintos que cons-
tituem os fenômenos psicológicos e biológicos da vida.
Quarto, que de acôrdo com a concepção de Freud tanto as ten- dências destrutivas como as construtivas são originariamente autodirigidas, mas se tornam cada vez mais extrovertidas em ligação
com o nascimento, o crescimento e as experiências da vida. Em seus contatos com outros, o indivíduo primeiro reage com introversão de suas tendências agressivas, seguida por uma extroversão
das tendências eróticas ou construtivas, que pela fusão com as primeiras podem atingir vários graus de neutralização da durma",dade, desde neutralizaçao total até quase nenhuma neutralização_
Quinto, que quando há uma interrupção forçada dêssea invam, mentos externos ou quando é encontrada excessiva dificuldade a¡- mantê-los, os impulsos destrutivos e construtivos se voltam de :av: para a pessoa de sua origem, isto é, são voltados contra o eu, Sexto, que aqui também, se ocorre separação, as tendências destrutivas assumem a dianteira e podem prevalecer permanentemente de modo que sobrevém a autodestruição em grau menor ou maior: que nesse acontecimento se podem encontrar indicações do desejei
de matar e do desejo de ser morto, assim as formas erotizadas
desses dois desejos. Sétimo, que naqueles casos em que os impulsos autodestrutivos são alcançados e parcialmente, mas não completamente neutrali. zados, temos as numerosas formas de autodestruição parcial ou crô. nica a serem discutidas nos capítulos subseqüentes. Oitavo, que naqueles casos em que os impulsos autodestrutivos preeedem de muito ou suplantam os impulsos construtivos neutra-
lizadores, o resultado é o dramático exemplo de imediata autodestruição conhecido como suicidio.
Nono, que cuidadoso exame dos motivos mais profundos de sui-cídio confirmam esta hipótese pelo fato de parecerem regularmente que há elementos de pelo menos duas e possivelmente três fontes.
São elas: (1) impulsos derivados da agressividade primária cristalizada como desejo de matar; (2) impulsos derivados de uma modificação da agressividade primária, a consciência, cristalizada como desejo de ser morto; e (3) eu creio haver indicação de que parte da agressividade primária original autodirigida, o desejo de morrer, se alia aos motivos mais sofisticados e ziumenta a fôrçzi vectorial total que impele à autodestruição precipitada. Décimo, que isso é sem dúvida complicado por fatôres externos atitudes sociais, padrões familiares, costumes da comunidade e também pelas distorções da realidade resultantes de incompleto desenvolvimento da personalidade. O mesmo individuo cujas experiências da meninice inibiram de tal modo seu crescimento emocional a ponto de tornar-lhe difícil estabelecer e manter os Obje-tivos externos apropriados para absorver seus amôres e ódios tem probabilidade dc ser aquele cuja capacidade de experimentar .a realidade é penejudicada a ponto de tornar o suicídio apenas 
uma brineadtrira de "ir a Jerusalem". Décimo-primeiro, que estamos crtos de que o suicidio não 
:pode ser explicado como resultante de heriditariedade. que¡ dos sintomas de desajustamento que com tanta freqüência o precedem. Pelo contrário, podemos freqüentemente ver o firme progresso de tendências autodestrutivas que aparecem pela pri- meira vez muito tempo antes da consumação do ato crítico.
Décimo-segundo, que tendo assim examinado as operações das tendências dcstrutivas e construtivas dentro de fórmula que resulta em suicídio imediato, podemos passar a examinar os casos de neu-
tralização melhor sucedida, representados pelas formas crônicas e atenuadas de autodestruição.
 

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